O mundo em uma taças

Dê-me uma taça com um pouco de vinho, que


viajarei pelo mundo através de seus goles.






sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Fiquem de olho em Flores da Cunha !

Nesta minha viagem pela Serra gaúcha, dediquei um dia para visitar algumas vinícolas em Flores da Cunha e o que ví me surpreendeu. Já muito conhecida por ser a maior produtora de vinhos do Brasil (grande parte de vinhos de mesa), Flores da Cunha começa à ganhar muito espaço no setor de vinhos finos. Comparando com o Vale dos Vinhedos, eles ainda estão bem atrás, mas caminham à passos largos para fazerem frente em um futuro bem próximo. Vejam minhas impressões:
Vinícola Panizzon: Pega-se uma estradinha até chegarmos em uma das maiores vinícolas do Brasil. Grande produtora de sucos e vinhos de mesa, começa à mostrar suas armas na produção de vinhos finos. A sua bandeira é o preço baixo, muito competitivo. Seus vinhos não têm tanto destaque qualitativo, mas os baixos preços atraem os consumidores. Vejo como destaque o Máximus 2005, seu top de linha por ridículos R$ 28,00. É um vinho complexo, amadurecido e que vale muito mais do que custa.
Vinícola Viapiana: Encantadora vinícola em uma estradinha de terra. Com visual moderno e ótimo atendimento, tem um show-room fantástico para degustações. Vinhos muito corretos e alguns encantadores. O espulmante brut champenoise 192 tem um frescor incrível à apenas R$ 26,00. Possui um belo Marselan e faz boas tentativas com a sauvignon blanc e com um chardonnay barricado. Tem um top feito com uvas passificadas que é novidade no mercado brasileiro. Vinícola audaciosa com ótimas intenções. Deixou saudades.
Vinícola Salvador: Impossível não se ancantar com o senhor Antonio Salvador e sua família. O projeto da vinícola é digno de visita e o Sr. Salvador tem todo o orgulho de mostrar detalhadamente seu sonho realizado. Possui bons vinhos com um preço muito interessante e um top, o já cult Gran Báculo 2005. É o tipo do lugar onde você se sente em casa. Imperdível. Fica bem no centro de Flores da Cunha.
Vinícola Luiz Argenta: Sem dúvida, a mais moderna e bonita vinícola do Brasil. Sua cave de pedra impressiona qualquer enófilo do mundo. Tem vinhos muito corretos e um enólogo de primeira categoria. Pena que o atendimento foi mais frio do que estar na Sibéria. Logo que cheguei, um dos donos nem me deu boa tarde e foi logo entrando. Então apareceu um garoto que me mostrou a vinícola com ares de "que saco!" e não conseguiu esboçar um sorriso durante a apresentação da vivícola e seus vinhos. Me pareceu que o pessoal da Luiz Argenta seleciona seu público para o atendimento. Vinícola linda, bons vinhos e atendimento frio. Faltou calor humano, faltou mostrarem que gostam do que estão fazendo. Uma pena.
Vinícola Venturini: Antes de chegar em Flores da Cunha, pega-se uma estrada de terra e chega-se à uma imponente construção. Uma vinícola moderna, que utiliza uvas principalmente da Campanha gaúcha, para dar origem à vinhos ultra-modernos e muito equilibrados. Todos os seus vinhos são bons e têm ótimo preço. O seu Chardonnay é imbatível na faixa de preço. É de visitação obrigatória.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Bettú corte bordalês 2004

Beber um vinho artesanal é sempre um prazer e quando este vinho é nacional, este prazer se multiplica. Com uma produção ínfima de apenas 250 garrafas, Bettú nos oferece um clássico vinho bordalês elaborado em terras gaúchas. Com uvas colhidas em grau exato de maturação e muito esmero na produção, este vinho bate muito gigante estrangeiro. Há os que dirão que o vinho tem seus excessos de maturidade ou que está um pouco envelhecido. Outros ainda dirão que é um vinho comum. Há ainda quem possa dizer que estou comentando baseado na emoção do contato direto com seu produtor. Mas, a verdade é que o vinho é muito bom e está em um período ótimo de consumo. Coloração vermelho granada quase intransponível, com bordas alaranjadas e reflexos cor de tijolo, denotando evolução. Aromas muito complexos, com frutas negras, tabaco, café, couro, toques balsâmicos e muito mais o que sua imaginação puder chegar. Na boca, apresenta grande estrutura, grande corpo, taninos presentes e aveludados, acidez cativante e final muito longo. Um vinho para quem gosta de vinho: complexo, estruturado, macio e evoluído. É elaborado à partir de castas francesas em um típico corte bordalês, mas não sei com exatidão qual o corte e quanto tempo o vinho passou por madeira. Numa degustação às cegas, ganha de muito vinho francês e italiano com o triplo do preço. Nota: 93 pontos. Avaliação custo-benefício ****.

Corte Alla Flora Cabernet Sauvignon IGT 2008

De certo tempo para cá, devido ao grande sucesso dos chamados super-toscanos, produzir vinhos italianos à partir de castas francesas virou moda. Temos bons resultados com a Merlot na região de Friuli, com a Syrah na Sicília, com as castas clássicas bordalesas na Toscana e por aí vai. Mas, os melhores exemplares são os cortes das castas francesas com a sangiovese. Este vinho é um 100% cabernet sauvignon elaborado na Toscana. Tem seus pontos positivos e seus pontos negativos e o resultado final é razoável. Apesar de ter recebido boas críticas, acho que o vinho está aquém do seu preço e do que pretende ser. O visual é bacana, com um vermelho rubi com reflexos granada, boa limpidez e lágrimas delicadas. Os aromas não se escondem, mas não exibem alta complexidade, denotando frutas vermelhas maduras, algo de cacau e um leve tabaco. Na boca, acho que o vinho caí muito: com pouca concentração, o vinho é bem simples neste quesito. Tem boa acidez, mas falta corpo e estrutura. É correto, mas muitas vezes, a sensação é de que não passa disto e um vinho que custa quase R$ 100,00 tem que oferecer muito mais. Paguei R$ 69,00 em condições especiais e mesmo por este preço, acho que o vinho fica devendo. Existem muitas opções melhores no mercado. O vinho é até agradável, mas não vale o investimento. Nota: 87 pontos. Avaliação custo-benefício **.

Espino Chardonnay 2010

Este 100% chardonnay é elaborado com uvas provenientes da região de Pirque, no Alto Maipo chileno. Sim, é o que podemos chamar de vinho andino, um bom branco andino. Prova-se com este vinho que não é necessário proximidade com o litoral ou extremos de latitude para produzir bons vinhos brancos no Chile. E olha que não estou falando de vinho caro. Coloração amarelo claro com boa limpidez e brilho. Aromas remetendo à frutas tropicais como o maracujá e abacaxi, com lembranças de pêssegos amarelos, algo de mel e pásmem, um toque sutil herbáceo. Com bom corpo e boa acidez, este vinho se move bem na boca e não é enjoativo. Com certeza, uma boa compra. Tem a marca de William Fevre, grande nome do Chablis. Nota: 89 pontos. Preço: em torno de R$ 39,00. Avaliação custo-benefício ***.

Cave Amadeu Brut Rosé

Espulmante rosé elaborado pelo método tradicional com uvas 100% Pinot noir, provenientes de Pinto Bandeira. Geisse é um especialista quando o assunto é vinho espulmante deste ótimo terroir brasileiro. Conseguiu elaborar um belo vinho espulmante rosé, leve e refrescante, sem perder a estrutura básica e a elegância. Visual rosa bem clarinho quase casca de cebola, com perlage fino e intenso, apesar de não muito persistente. Com boa formação de espulma na taça, este vinho enche bem a boca, tem boa acidez e bastante frescor. Apenas incomoda um pouco o açucar acima do que eu gosto. Perfeito para entradas e pratos leves à base de frutos do mar. Boa opção de espulmante rosé à um bom custo. Nota: 89 pontos. Preço: em torno de R$ 38,00. Avaliação custo-benefício ***.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Don Giovanni Chardonnay 2011

Ultimamente, tenho defendido muito os vinhos brasileiros, em especial os vinhos brancos. Realmente, tenho fortes convicções que os vinhos brancos são a verdadeira vocação do sul do país, além dos espulmantes, é claro. Este chardonnay foi elaborado pela boa vinícola Don Giovanni, com uvas de Pinto Bandeira e passou 6 meses por barricas de carvalho. Coloração amarelo claro com reflexos dourados e boa limpidez, muito correto na análise visual. Aromas leves e delicados de maracujá fresco, um pouco de mel e toque sutil de avelã. Na boca, tem bom frescor, acidez correta, mas falta um pouco de volume. Em nenhum momento, o álcool ou a madeira aparecem, denotando um vinho extremamente balanceado. Poderia ser melhor, se tivesse um pouco mais de complexidade e mais volume em boca, mas é mais um bom representante brazuca, que vai combinar muito bem com peixes leves, como um linguado com legumes. Nota: 89 pontos. Preço: em torno de R$ 32,00. Avaliação custo-benefício ***.

Trio Cabernet sauvignon / Syrah / Cabernet franc 2010

Mais um vinho da boa compra de R$ 24,00 da linha Trio da Concha & Toro. Este vinho é proveniente do Vale do Maipo e amadurece 10 meses em carvalho françês. É inconfundivelmente um vinho do Maipo. Independente das cepas que o compõe, o que manda neste vinho é o mentolado andino. Coloração vermelho rubi intenso com reflexos violáceos, bem jovial. Lágrimas grossas e intensas manchas na taça. Aromas de frutas vermelhas bem maduras, cassis, cravo e o característico mentol. Taninos vigorosos, acidez correta e final médio com bom volume em boca. Tem um defeito bem visível, o álcool muito evidente. Mesmo depois de um bom tempo decantando, o álcool insistiu em permanecer. É um vinho que tem boa vocação gastronômica para cordeiro com molho de hortelã ou filé mignon ao alecrim. Sim, é bastante elogiável, mas muito óbvio, não trazendo nada de novo. Tem potencial para melhorar nos próximos anos. Hoje, dá para ser bebido, mas sem encantar. Achei as notas do Descorchados um pouco exageradas para o que o vinho oferece. Comparando com outros vinhos, o Palo alto é bem semelhante e mais barato. Nota: 88 pontos. Avaliação custo-benefício ***.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Lindeman's Cawara Shiraz-Cabernet 2010. Esse é ruím !!!

Eu sei que tem muito blogueiro aí que para não falar mau de determinado vinho e consequentemente, perder sua "fama" e seus "agrados", se defendem alegando que simplesmente não querem perder tempo com posts que não valem à pena, se limitando à postar apenas bons produtos. Antes que a minha e a vossa massa cinzenta seja ainda mais agredida, já me posiciono no grupo dos que não devem nada para ninguém e que querem apenas ter prazer e ajudar os leitores. Obviamente, eu seleciono os vinhos que bebo, tomando cuidado para não ingerir qualquer porcaria, mas às vezes, deslizo feio nas compras e aí não tem jeito: surra no vinho. É o caso desta bela porcaria que comprei, um corte australiano de shiraz e cabernet, uma verdadeira apelação de frutas excessivamente maduras, um vinho superlativo na ruindade. Corra desta, é fria! Paguei cerca de R$ 25,00 e estou com dor no peito até agora! É muito ruím! Para fazer sagú, gaste apenas R$ 5,00!!! Nota: menos de 80. Avaliação custo-benefício *.

Concha & Toro Trio sauvignon blanc 2009

Vou confessar que não sou fã dos vinhos da Concha & Toro, mas esta gigante tem alguns vinhos que me agradam. Por exemplo, gosto dos casilleros syrah e malbec, pelo bom custo-benefício. Acho o terrunyo carmenére um grande vinho e o Don Melchor chega à ser uma lenda. Sinceramente, não conheço os ícones Gravas de Maipo e o Carmin de Peumo, até porquê os preços assustam e muito! A linha Trio, logo acima do casillero, nunca me encantou, mas agora não teve jeito, pois encontrei 3 garrafas sendo vendidas juntas por R$ 72,00! Nunca encontrei esta linha de vinhos tão barato aqui no Brasil (R$ 24,00 a garrafa). Comprei e abri a primeira garrafa: Trio sauvignon blanc, um assemblage de sauvignon blanc, proveniente de 3 terroir diferentes (Casablanca, Rapel e Limarí). O resultado foi um pouco descepcionante, talvez porquê o vinho já esteja em um processo de falência. Sim, apesar de relativamente jovem (2009), a sauvignon blanc perde muito com o tempo, pois perde o que mais encanta: o frescor. O visual é de amarelo-palha, límpido, translúcido, com reflexos verdeais, muito característico da cepa e correto. Os aromas são bem simples e não se escondem, remetendo à frutas cítricas. Na boca, o vinho é correto, tendo acidez média, bom corpo e final curto. Faltou o frescor! Um vinho correto, mas que realmente não encanta. Não tem aquela acidez pungente, nem aquele toque de selvageria que caracterizam os melhores sauvignon blanc do Chile. Quem experimentou o Casa Marin Cipresses, o Ventolera ou o Matetic EQ Coastal irá entender o que estou dizendo. Pelo preço que paguei, a compra foi boa, mas pelo preço normal de mercado, acho que pode ser substituído por algo melhor. Nota: 87 pontos. 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Marco Luigi Grande reserva cabernet sauvignon 2006

Muito se falou nos últimos anos, que a cabernet sauvignon não se adaptava ao terroir do Vale dos Vinhedos, devido ser uma cepa de maturação tardia, que muito é prejudicada pelas fortes chuvas e pouco sol na época das colheitas. Salvem as grandes safras, nos anos comuns a cabernet sauvignon não atinge maturidade suficiente e origina vinhos sem graça, com pouca doçura e toques herbáceos exagerados. Mas, este cabernet sauvignon grande reserva da Marco Luigi prova o contrário. É claro que os 20 meses em contato com o carvalho e o posterior afinamento em garrafa possibilitaram a correção de alguns defeitos e deixaram o vinho bastante redondo e fácil de beber. Com bonito visual vermelho rubi intenso e bordas alaranjadas, mancha bastante a taça e derruba grossas lágrimas. Aromas até que bem complexos, com predominância de geléia de frutas maduras, com couro, tabaco, alcatrão e leve herbáceo. Na boca, perde um pouco no volume, mas tem taninos aveludados, acidez correta, boa maciez e final longo. Sim, se percebe ainda a madeira, mas com bela integração ao conjunto. É o tipo de madeira bem aceita pelo paladar. Mas um belo vinho do Vale dos Vinhedos, o que vai mudando completamente minha opinião sobre vinhos nacionais. Nota: 90 pontos. Preço: em torno de R$ 67,00. Avaliação custo-benefício ***.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Barcarola Specialitá Merlot 2005

A Barcarola é uma das menores vinícolas do Vale dos Vinhedos e produzem vinhos à partir de vinhedos próprios, com muito cuidado e baixo rendimento. César é um dos enólogos responsáveis pela produção. Membro da família proprietária e com formação em enologia na Itália, conhece os segredos para elaborar um vinho complexo e gastronômico sem passagens por madeira. Sim, todos os vinhos da Barcarola não passam por madeira. Vamos falar deste Merlot, da magnífica safra de 2005. Visual já denotando evolução, com um vermelho rubi translúcido, com bordas alaranjadas e reflexos cor de tijolo. Aromas com boa complexidade, remetendo à ameixas pretas maduras, couro, tabaco e toques balsâmicos. Na boca, o vinho se mostra no ponto: taninos maduros e polidos, acidez preservada e ideal, corpo médio, final longo e agradável. É isso: um vinho no apogeu para ser bebido e agraciado. É um belo exemplo de como esta cepa (Merlot), pode originar vinhos complexos, estruturados e longevos, mesmo sem passagem por madeira. Parabéns, César e toda a equipe da Barcarola! São pessoas que batalham pelo nosso solo e país, extraindo dele todo o seu potencial. Um vinho que é bem superior às bombas espanholas, bem pontuadas por Parker. Fora a Parkerização! Temos vinhos bem melhores por aqui! Nota: 90 pontos. Preço: em torno de R$ 43,00. Avaliação custo-benefício ***.

Angheben Gewurztraminer 2012

A Gewurztraminer é uma uva rosada que dá origem à vinhos brancos muito aromáticos e com forte personalidade. Fáceis de agradar à um primeiro contato, os vinhos provenientes desta cepa têm o desafio de não se tornarem enjoativos ao longo da garrafa. Manter o frescor e uma adequada acidez são fundamentais para se adquirir bons vinhos da Gewurz. E a Angheben conseguiu tudo isso! O vinho é um deleite: aromático, fresco, suave, boa complexidade e delicadeza são alguns dos adjetivos que traduzem um resultado muito agradável. Visual amarelo-palha com reflexos levemente dourados, muito brilho e limpidez. Aromas característicos da cepa: lixia, "creme nívea", frutas tropicais, floral de margarida. Boca com muita leveza e bom corpo, acidez correta e bom frescor. Um ótimo exemplo de Gewurztraminer produzido em solo brazuca. Não tem extrema complexidade e nem precisa, é um vinho muito gostoso para acompanhar pratos à base de frutos do mar e comida oriental. Tem 13% de graduação alcoólica, imperceptível na boca. Para mim, o melhor vinho da Angheben. Nota: 90 pontos. Preço: em torno de R$ 36,00. Avaliação custo-benefício ****.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Casa Venturini Chardonnay reserva 2010



Grata surpresa, este vinho brazuca vem provar para todos os que ainda são resistentes em aceitar, que o Brasil tem grande vocação para produzir ótimos vinhos brancos. Com uvas provenientes da Campanha gaúcha, a Casa Venturini (radicada em Flores da Cunha) elabora este refrescante e corretíssimo varietal de chardonnay, sem passagem por barricas de carvalho. Coloraçaõ amarelo-palha bem claro, linda transparência e com pequenas borbulhas que lembram um Vinho Verde. Aromas de frutas tropicais, remetendo ao maracujá e abacaxi, bem frescos e suaves. Boca deliciosa e bastante refrescante, pedindo sempre outro gole. Boa maciez, boa acidez, tem bom volume e nenhum amargor. Nem um pouco enjoativo, este vinho é um exemplo de como fazer um ótimo chardonnay com boa vocação gastronômica e muito leve. Nota: 90 pontos. Preçõ: em torno de R$ 30,00. Avaliação custo-benefício ****.

Vaccaro Malbec 2008

Vinho 100% malbec com 4 meses de passagem por carvalho francês, produzido pela família Vaccaro, em Garibaldi. Produção artesanal, com parreiras em sistema em Y, feito com bastante cuidado e respeitando um estilo Velho Mundo. Coloração vermelho rubi com reflexos granada, boa limpidez e bastante transparente. Aromas de frutas negras suaves, com muita especiaria, preferencialmente a pimenta preta e certo floral, lembrando violetas. Na boca, se mostra com boa acidez, taninos aredondados, leve para médio corpo, final médio. Bastante elegante e muito gastronômico, respeita o estilo Velho Mundo. Pelo preço que paguei, foi uma pechincha e tanto. Bastante adequado para o dia-a-dia porquê é barato, gastronômico, leve e versátil. Nota: 87 pontos. Preço: R$ 15,00. Avaliação custo-benefício ****.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Vinícola Vallontano: celeiro de bons vinhos.

Estive na Vallontano, durante minha estadia em Bento Gonçalves. Muito aclamada no Brasil, tem seus vinhos veiculados pela Mistral. Ao chegar nesta charmosa vinícola, fui surpreendido em descobrir que além do varejo de vinhos, existe um bistrot café agragado à loja. Vinícola menor do que eu imaginava, com produção pequena de cerca de 30000 garrafas por ano. Conhecia o seu Tannat, vinho já comentado no blog e que nada deve aos Tannat uruguaios. Com boa recepção e agradáveis acomodações, fui gentilmente conduzido à uma degustação, a qual revelou um belo chardonnay, já da boa safra de 2012. Levei para casa um raro cabernet sauvignon da safra de 2005. Das novidades, chamou a atenção um exemplar da uva Peverella. Segundo informações colhidas, somente na Vallontano e na Salvatti, se elaboram este vinho no mundo! Depois disso, descobri que o lendário Valmir Bettú também o elabora. A Vallontano vai cobrar caro pela novidade: mais de R$ 120,00! Empresa familiar, com vinhos corretos e muita simpatia no ar.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Vinícola Angheben: Familiar e elegante!

Aqui em São Paulo, nós conhecemos a Angheben através da Vinci vinhos, importadora que veicula seus vinhos. Já tinha experimentado seu cabernet sauvignon e seu espulmante brut, vinhos que me agradaram parcialmente. Aproveitei a estadia em Bento Gonçalves, onde tive a oportunidade de conhecê-los mais de perto. Ao entrar na vinícola, me surpreendeu o tamanho da mesma, muito menor do que eu imaginara. Fui atendido pelo Eduardo, filho do senhor Angheben, dono da vinícola. Eduardo é enólogo de formação e com muita atenção me conduziu uma degustação. Explicou que a Angheben é uma pequena vinícola, com um volume de produção de 30000 garrafas por ano, sempre focada em vinhos de grande elegância, com ênfase na fruta, sendo muito racional o uso da madeira,  a qual está parcialmente presente com rápidas passagens em seus vinhos. A vinícola decidiu focar em uvas menos comuns, o que deu um diferencial importante de mercado. Gostei muito do Gewurstraminer e do Barbera, com menção honrosa para o Teroldego. Inicialmente, achei alguns de seus vinhos com pouco corpo em boca, mas me rendi à grande vocação gastronômica e elegância de seus caldos. São vinhos de personalidade e com boa relação custo-benefício. 

Vilmar Bettú, uma autêntica "mosca branca"!

Não tinha outra forma de iniciar a minha série de posts sobre a viagem ao Vale dos Vinhedos e redondezas! O motivo é muito simples: não sei quando encontrarei novamente uma figura tão diferente e carismática quanto Vilmar Bettú! Tudo aconteceu repentinamente no último dia de viagem, quando eu já tinha esgotado as possibilidades de passeio e já havia me conformado com um sonolento sábado. Mero engano! Após encontrar de última hora, um local agradabilíssimo para almoçar (Família Vaccaro, zona rural), observei a presença de uma pequena vinícola no caminho da roça, chamava-se Vinhos Bettú. Liguei para o telefone indicado no folheto e uma de suas filhas atendeu e foi chamar o pai. "Seu Vilmar, gostaria de conhecer sua vinícola e seu processo de produção." Logo ele respondeu: "Sim, claro, mas não venha agora! Vamos deixar para às 15:00h, pois tenho que prepara tudo!" Compromisso firmado, fui almoçar e após muitos vinhos no almoço, peguei o caminho daquilo que foi a experiência enológica mais pitoresca da minha vida. Estacionei o carro em frente sua propriedade e a cachorrada fez o trabalho de anunciar nossa chegada. Logo, apareceu a figura de Vilmar: gordinho, baixinho e com um belo rabo de cavalo. "Por favor, me sigam." E lá foi o "Mestre dos magos" em direção à um porão, no qual funcionava sua pequena vinícola e nos acomodou (eu, minha esposa e minhas filhas) em uma espécie de sala de aula e degustações, com inúmeras taças e garrafas. Nos apresentou seu modo de produção e sua generosa carta de vinhos. Pegou um espulmante de produção própria, ainda sem rolha e foi abrindo. "Seu Vilmar, o senhor não vai fazer o congelamento da ponta da garrafa, para retirar as borras?". Respondeu: "Vamos beber agora, então para quê ter dois trabalhos?" Óbvio!!!!! Meu Deus, que espulmante! Aquele néctar com 3 anos de maturação, apresentava um belo amarelo dourado, com um perlage fino e abundante, aromas intensos de castanha e avelãs, boca volumosa e ao mesmo tempo leve; um verdadeiro champagne! Este produto, Vilmar não vende em hipótese alguma, pois só é utlizado para brindar aqueles que o visitam. Vilmar Bettú conversa de tudo e quer saber sobre seus visitantes. Coversamos sobre política, economia, jogos de cartas, família, filmes e claro, vinhos! Colocou um vinho branco extremamente aromático e refrescante em minha taça: "É Malvasia de Cândia!" Carnudo e fresco, similar aos grandes Gewustraminer da Alsácia e Alemanha. "Experimente este aqui!" Serviu um tinto violáceo escuro, quase intransponível, com intensos aromas de violeta e frutas em compota. "Que vinho é este, Vilmar?" Respondeu: "É um malbec." Tá de sacanagem! O vinho lembra muito um bom Achaval Ferrer! Papo vai, papo vem e, ao falarmos de Pinot noir, ele pergunta: "Você gosta de Pinot?" Exclamei que sim, já esperando algo bom, mas o quê veio foi surpreendente: ele se levantou e pediu que o acompanhasse até a sala ao lado, onde pegou uma pipeta e abriu um barril. Colocou o vinho em nossas taças e disse: "Este é um pinot de um vizinho meu. Foi elaborado seguindo as técnicas biodinâmicas e vai ser engarrafado esta semana. Experimente, sua opinião é muito importante!" Vilmar não vê vantagens no cultivo biodinâmico, mas respeita quem faz. "O quê você achou?" Respondi: "Um bom pinot, Vilmar! Ainda com madeira bem aparente, escondendo um pouco o vinho. Falta um pouco de tipicidade de Pinot borgonhês, mas é um bom vinho!" Me perguntou: "Quanto você acha que ele vale?" Respondi: "Vai depender da quantidade, apresentação e outras coisas mais!", me esquivando. Completei: "Este vinho será um sucesso de vendas, dependendo do valor cobrado!" Após este autêntico "jogo de xadrês", Vilmar me serviu um Nebiollo 2006: evoluído, macio e cativante. Ainda houve espaço para um corte bordalês muito bom. Após mais de 3 horas (sim, eu disse 3 horas) de conversa e vinhos degustados, fiz uma compra que inclui o Malbec, o Nebiollo e o corte bordalês. Insisti em uma garrafa de espulmante, mas Vilmar foi resistente em não vendê-la. "Seu Vilmar, o que você faz da vida?" Respondeu: "Faço vinhos e jogo cartas. Aliás, deveria estar lá, jogando cartas, agora." Perguntei: "Estou te atrapalhando?" Respondeu: "Não, este é o meu serviço!" Deixei sua casa, após mais de 3 horas de pura diversão e aprendizado, feliz da vida com minhas 3 garrafas embaixo do braço. Vilmar Bettú não fez enologia e tudo o quê sabe, aprendeu com seu pai e com os parrerais. Auto-didata, fez estudos sobre terroirs e é respeitado por celebridades do mundo do vinho. Já foi tema de reportagens de televisão e revistas especializadas, mas não se julga um gênio. Tem muita humildade para perguntar e ouvir opiniões e tem opinião formada sobre quase tudo, não se deixando levar por modismos. Dono de uma inteligência ímpar, sabe cativar o cliente e vender sua marca, sem ser um picareta. Suas minúsculas produções são vendidas vagarosamente e vão subindo de preço, conforme vão acabando. Quanto ao preço, alguns acham seu vinho muito caro, mas vejamos: o Malbec custa R$ 100,00, não mais que um belo malbec argentino; o corte bordalês de 2003 custa R$ 95,00, bem menos que um Bordeaux da mesma qualidade; o Nebiollo custa R$ 160,00, quanto vale um bom Barolo mesmo? Sim, seus vinhos são ótimos e valem o quanto custam. Ao adquirir suas garrafas, sei que ao abri-lás vou estar recordando esta experiência ímpar e isto não tem preço! Obrigado Vilmar Bettú, por momentos tão agradáveis e singelos. Até a próxima!

Visitando as vinícolas da Serra gaúcha: um panorama geral.

Neste início de dezembro, estive visitando alguns pontos turísticos do Rio Grande do Sul e como não poderia deixar de ser, o tour passou por inúmeras vinícolas. Nestes próximos dias, estarei detalhando tudo o que encontrei de interessante e merece ser relatado. Hoje, traço um panorama geral do que encontrei por lá e após 9 dias de viagem pude chegar à algumas conclusões:
- O vinho brasileiro melhorou muito! Sim, esta frase já ficou rotineira nos últimos anos, mas nunca foi tão verdade quanto é hoje! A qualidade melhorou muito e não é só exclusividade das grandes vinícolas.
- O vinho brasileiro tem identidade! Não temos uma casta nativa, mas temos um terroir que podemos chamar de nosso. Isto se comprovou nos inúmeros vinhos de qualidade que provei, os quais mantinham uma característica própria semelhante.
- Quanto menor a vinícola, melhor para se visitar!
- Nossos espulmantes continuam imbatíveis no custo-benefício!
- Existe muito mais do que Merlot na Serra Gaúcha! Quem fala que só a Merlot dá bons vinhos no Vale dos Vinhedos, não conhece este local ou está falando bobagem!
- A Chardonnay é a grande casta branca do Vale dos Vinhedos, mas a Malvasia de Cândia, a Peverella e a Moscato Giallo dão origem à bons vinhos, com características singulares.
- Fiquem de olho em castas menos conhecidas como a Lagrein, Teroldego, Marselan, Touriga Nacional, Barbera, Barbera do Piemonte e Gewurstraminer. Daí, saem boas surpresas!
- Fiquem de olho em Flores da Cunha! Cresceu muito em termos de qualidade e o fato é que eles têm quantidade! Não tenho dúvidas que Flores da Cunha vai rivalizar com o Vale dos Vinhedos em um futuro muito próximo.
- Sim, o nosso vinho tem longevidade! Bebi  vários vinhos da safra de 2005 e todos estavam bons e ainda por evoluir.
- Ainda há muito o que explorar. Por exemplo, encontrei uma vinícola de vinhos finos em Canela!
Trago desta viagem inúmeras histórias para contar, muita experiência adquirida, muitas amizades conquistadas e a certeza de que nosso vinho brazuca tem muito espaço em nossa adega, basta apenas conhecê-lo! Volto com outros posts sobre as vinícolas. Até mais!