O mundo em uma taças

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viajarei pelo mundo através de seus goles.






quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Hermanos, sublime hermanos

Cabernet sauvignon argentino: um vinho para a guarda.

      Muito se fala do malbec argentino e com razão, pois é o que se tem de melhor quando se fala em vinho na Argentina, aliás, os melhores vinhos argentinos, em sua maioria, são blends de malbec e cabernet sauvignon. Mas, e quando se fala de cabernet sauvignon em sua apresentação varietal? São renegados à um segundo plano, caracterizados por uma maturidade excessiva e abuso da madeira. São ofuscados pela supremacia dos seus vizinhos do Maipo chileno, de qualidade superior. Só que hoje, venho defender os vinhos hermanos desta casta nobre e tentar desfazer esta injustiça. Recentemente, trouxe da Argentina dois representantes da classe: Trapiche Fond de cave gran reserva cabernet sauvignon 2004 e Siesta Ernesto Catena Cabernet Sauvignon 2003.
      Ambos são vinhos que eu não conhecia, portanto, uma novidade enológica para o meu paladar. Também, poucos comentários disponíveis nos meios de comunicação existem sobre tais vinhos, fator positivo porque menos influencia a minha opinião.
       Foi interessante perceber uma característica comum aos dois vinhos: ambos envelheceram muito bem e provaram que podem ganhar com o tempo, fato realmente marcante, pois é qualidade rara nos vinhos sul-americanos. Para comprovar o que estou dizendo, vou citar dois vinhos explêndidos: Sigla 2 2006 e Albis 2004, jovens e prontos para o consumo, com capacidade de guarda sim, mas não acredito que ganhariam com o envelhecimento.
      O Siesta é um vinho em sua plenitude, com aromas de frutas vermelhas e cassis, muito característico da cepa. Taninos redondos, maciez, sedosidade, sabor de quero mais; enfrentou de peito aberto um filet mignon com pimenta verde. Coloração rubi, que denuncia ser um vinho pronto! Nota: 92 pontos. R$ 72,00, na Mistral. Vale o quanto custa!
      O Trapiche segue a linha do Siesta: vermelho até dizer chega, sem mascarar suas características, madeira bem integrada, nem chegando a ser percebida, acidez balanceada e quebrada seca na boca. Vida um pouco mais curta que o Siesta, bebi no limite. Nota: 91 pontos. Paguei 90 pesos na Argentina. Por este preço, é jóia.
      O que diferenciou estes dois vinhos de outros cabernet que provei da Argentina foi o tempo de evolução em garrafa, visto que ambos foram degustados em 2010, fator que me leva à crer que o cabernet sauvignon argentino, quando levado à sério, ganha muito com o tempo em garrafa e se torna um vinho com tudo aquilo que se espera do cabernet sauvignon. Outro fator que me convence desta verdade é o de ter provado cabernet jovem argentino que, apesar de apresentar potencial, não agradou muito, deixando aquela nítida sensação de se estar bebendo vinho cru, como se estivesse comendo fruta verde.
      Comprem duas garrafas do Siesta 2005 e abram em 2012 e entenderão o que estou dizendo.
         À propósito, este aí na foto sou eu, no restaurante La Brigada, em San Telmo, Buenos Aires,  no enorme sacrifício de comer de ter que devorar um bife de chorizo acompanhado de um Quimera.

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