O mundo em uma taças

Dê-me uma taça com um pouco de vinho, que


viajarei pelo mundo através de seus goles.






quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Vinhos ruíns: devemos criticá-los?

Olá, amigos enoblogs! Hoje, coloco em pauta mais um tema controverso em meu blog e gostaria da opiniâo de vocês. De tempos para cá, iniciou-se uma verdadeira guerra entre blogs com propaganda e blogs independentes, livres de qualquer propaganda. O que vimos neste últimos meses foram ataques de ambos os lados, com os blogs independentes questionando a veracidade dos comentários dos blogs patrocinados e os blogs patrocinados revidando, alegando que possuem mais "ibope" que os "bloguinhos" independentes e que não fazem críticas aos vinhos ruíns, simplesmente porquê não querem perder tempo com estes vinhos. Ok, o quê penso eu? Acho que esta guerra é uma bobagem e que o caminho é a união entre os blogs e não os ataques. Fiquem tranquilos, não vou dar uma de político e ficar em cima do muro! Em relação aos blogs patrocinados, não vejo problema nenhum em receberem um benefício para divulgação de um produto. Quero deixar bem claro à todos que o meu blog não tem propaganda, porquê foi uma opção minha, visto que já recebi algumas propostas em dinheiro e garrafas de vinho para simplesmente fazer bons comentários. Optei por não aceitar tal "propina", porquê o meu blog é uma diversão pessoal, que faz parte do meu lazer. Além disso, não sou profissional da área para assumir tal responsabilidade e tão pouco cara-de-pau para elogiar um vinho razoável em troca de propina. Mas, voltando ao assunto principal, acho que os blogs patrocinados têm que tomar uma conduta mais ativa, deixando de apenas fazer bons comentários aos bons vinhos. A crítica é uma arma poderosa, se não for ofensiva e for construtiva! Se o vinho é ruím ou não vale o que custa, tem que ser criticado sim!!!! Pois, se isso não for feito, como teremos parâmetro para avaliação? Vale lembrar que a omissão é muito mais grave do que uma crítica. Ora, se tal blog só comenta vinhos bons, onde estão os ruíns? Aí sim, gera suspeitas de charlatanismo. Pessoal, é simples: se o vinho é bom e vale o quanto custa, falemos bem dele, pois todos se darão bem com isto, mas se o vinho não é bom ou não vale o quanto custa, falemos a verdade, coloquemos nossas impressões, pois é com esta crítica que melhorias ocorrerão e menos trouxas seremos. Agora, omitir comentários ruíns para não "queimar o filme" com a importadora e dizer que não perde tempo com vinhos ruíns é quase que ofender a inteligência humana do pobre do leitor. Não vou citar nomes por questão de ética, mas gostaria de dizer que existem muitos ótimos blogs que eu acompanho e que tomam esta conduta omissa, o que é uma pena, porquê são escritos por pessoas de alto nível cultural e que possuem grande conhecimento na área. Estes blogs poderiam estar prestando um serviço muito melhor do que já os fazem! Caros amigos, não fiquem chateados com estes comentários, pois apenas estou expressando minha sincera opinião. Que isto sirva para melhorar o nosso universo enblogs. Abraços!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Hereu 2008

Arnaud Hereu é o enólogo responsável pelos vinhos da Odfjell, onde ganhou grande experiência com a uva Carignan e o Vale do Maule. Este vinho é uma produção independente e é elaborado à partir de uma mescla de carignan, syrah e malbec, com uvas do vales do Maule, Colchágua e Maipo. Passa 12 meses por barricas de carvalho. Tem visual vermelho rubi belíssimo e empolgante com muita limpidez e brilho. Os aromas são de frutas vermelhas maduras, especiarias, mentol e violetas. O álcool se faz presente, mas não chega à incomodar. A madeira é imperceptível. Com bom corpo, o vinho tem bom ataque na boca, onde mostra uma cativante acidez e taninos bons de briga. Termina com final agradável e fica um gosto de quero mais. Bastante equilibrado e ao mesmo tempo rústico, é um vinho mais ao estilo Velho Mundo, mas com um inconfundível mentol chileno. Elegância e profundidade que o aproximam do tão badalado Erasmo, mas com um custo menor. Experimentem, vale a pena. Nota: 91 pontos. Preço: R$ 59,00. Avaliação custo-benefício ***.

Aliwen sauvignon blanc 2009

A vinícola Undurraga é uma das mais tradicionais do Chile e ultimamente vem trazendo ao público uma nova tendência de mercado, consagrada por Marcelo Retamal (De Martino), os chamados "vinhos de terroir". Esta linha nova e especial ganha o nome de TH (terroir hunter), mas o que venho falar hoje, é de um vinho de uma linha mais modesta, que privilegia o custo-benefício: Aliwen. Este Aliwen sauvignon blanc é elaborado com 100% sauvignon blanc, sendo 70% das uvas do Vale do Curicó e 30% das uvas do Vale do Leyda. Vejamos bem, estamos falando de um vinho da safra 2009 (hemisfério sul, com colheita em março de 2009), que não passa por madeira e amadurece pouco tempo em tubas de aço inox. Resumindo, foi engarrafado no máximo, em junho de 2009, tendo portanto no mínimo, 3 anos de garrafa, muito para um sauvignon blanc. Vamos à análise: o visual já não apresenta mais aquele amarelo-palha claro com reflexos verdeais, característicos da sauvignon blanc; em seu lugar entrou um amarelo-palha mais escuro com reflexos dourados. Os aromas não são tão pungentes, mas apresentam fácil descrição de frutas brancas (pêras e mças verdes), com toque cítrico. Quem procurar por grama cortada, aspargos ou cítrico envolvente não vai encontrar, porquê já é um vinho com certo grau de evolução. Mas, o vinho que é discreto e simples no nariz, engrandece na boca. A evolução fez muito bem ao vinho, dando-lhe corpo e sedosidade, mantendo boa acidez e frescor. Este bom corpo o transforma num vinho mais propício para pratos de frutos do mar, como camarões rosa grelhados, diferente do que ocorre com vinhos de sauvignon blanc mais jovens e ácidos, que são mais propícios para entradas, ostras e queijo de cabra. Sem dúvida, é boa pedida para quem gosta de gastronomia e é um apaixonado por frutos do mar, como eu. Só oriento beber logo este vinho, pois não acredito que possa aguentar mais que 8 ou 12 meses sem que perca totalmente o frescor. Nota: 90 pontos. Preço: R$ 34,00. Avaliação custo-benefício ***.

domingo, 28 de outubro de 2012

Quinta da Fronteira Grande Escolha 2008

Peço um momento da atenção de vocês, este vinho é coisa séria! Talvez não seja a oitava maravilha do mundo, nem o melhor vinho de Portugal, mas é algo diferenciado. Vamos do começo: ao abrir a garrafa e beber o primeiro gole, veio-me à cabeça: cometi outro infanticídio! Mero engano, dê tempo ao tempo, nem que seja por frágeis minutos e num toque de mágica, o coelho começa à sair da cartola. Sim, este vinho precisa de tempo para se mostrar, talvez alguns anos, mas se alguém quiser bebê-lo agora, faça uma breve decantação para poder apreciá-lo dignamente. O visual é bastante jovial, com um rubi púrpura com reflexos violáceos. Aromas extremamente complexos, evocando frutas vermelhas maduras e negras, com especiarias doces, tabaco e ervas. Nem tudo é sentido ao primeiro momento, sendo que a madeira atrapalha um pouco, mas com um curto tempo na taça, o vinho se abre para um belo buquê. Na boca, entra de forma incisiva, com taninos ainda robustos, acidez presente, grande corpo e final incrivelmente longo. Sem dúvida, é um vinho de guarda, que vai se apresentar estupendo em 4 ou 5 anos. No atual estágio de evolução, se encontra agradável para beber e com grande força, solicitando comidas de temperos fortes. Recebeu nada menos que 95 pontos da Wine & Spirits, pontuação algo exagerada. Nota: 92+ pontos. Preço: em torno de R$ 180,00. Avaliação custo-benefício ***.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Newen Syrah 2010

A syrah é uma cepa nativa da França e tem seus grandes ícones no Rhône norte, mas também se adaptou muito bem em outros países do mundo, sendo que teve resultados expressivos na Austrália, Chile e África do Sul. Agora, começa à mostrar bons resultados em Portugal e na Sicília. Na Argentina, dá origem à bons vinhos em San Juan e Mendoza, mas agora começa à despontar em regiôes mais frias, como a Patagônia, o que mostra a versatilidade e grande capacidade de adaptação desta maravilhosa uva, a qual se dá bem em quase todos os terrenos e climas, gerando vinhos completamente diferentes dependendo do local onde é cultivada. Este vinho que apresento hoje, é um exemplo de syrah de clima frio, onde revela seu lado mais fresco e herbáceo, gerando um vinho para consumo em dias quentes. Visual vermelho rubi translúcido e límpido, com lágrimas delicadas. Aromas de frutas vermelhas frescas, leve especiaria, discreto herbáceo e algo da tosta da madeira (4 meses em barricas de carvalho). Corpo leve, frescor vivo, boa acidez, taninos presentes e soltos, final curto. Um vinho tinto para o verão, uma boa opção para quem não quer encarar um vinho branco. Tem pouca complexidade, mas tem personalidade e não perde a tipicidade. Não é um grande vinho, mas é melhor que muito Pinot noir ralo e frutado que existe por aí. Nota: 87 pontos. Preço: R$ 41,00. Avaliação custo-benefício ***.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Acabou Avenida Brasil: Qual vinho que o Tufão servia em sua mesa de jantar?

Depois de mais de 170 capítulos, enfim termina a novela das 21:00h da Rede Globo de televisão. Avenida Brasil não foi a melhor das novelas, mas ficará marcada como um dos maiores sucessos de audiência de todos os tempos da televisão brasileira. A história de vingança entre duas mulheres, tendo como pano de fundo o cotidiano de um bairro de subúrbio do Rio de Janeiro, cativou o público e expôs o estilo de vida, muitas vezes exagerado, da população da periferia das grandes cidades. Com grandes interpretações, algumas exageradas, direção ao estilo cinematográfico e final trágico, a novela mostrou, entre outras coisas, situações pouco comuns até então, como o hábito de Tufão sempre beber vinho nas refeições. Mas, que vinho Tufão bebia? Aí que está! Se alguém souber de algum vinho que tenha sido utilizado na novela, por favor façam o comentário. A verdade é que NINGUÉM aproveitou os altos índices de audiência para fazer uma baita propaganda, nam mesmo a gigante Miolo. Será que custa tão caro assim? Ou será que ninguém percebeu que um "'idolo"como o Tufão bebendo vinho no cotidiano, talvez pudesse alavancar as vendas deste produto em terra brasilis? Para finalizar, alguém pode me responder: se o Adauto era analfabeto, como é que ele cursou internato (colégio interno), onde ganhou o apelido de chupetinha?

Domaine de l’Ouby 2009

Vinho 100% Gamay, da região de Beaujolais, com maceração semi-carbônica. Vinho simples, com visual rubi claro e lágrimas delicadas. Aromas simples com predomínio de frutas vermelhas frescas. Boca suave e delicada, acidez correta, taninos quase zero e final curto. Esperava mais deste gamay, mas o vinho não me emocionou. Muito simples! Por este preço (R$ 76,00), encontra-se vinhos muito melhores. Entra para a lista dos micos. Nota 85 pontos. Avaliação custo-benefício *.

Mini-post: Antiguas Reserva Merlot 2008. Pessoal, este vinho é muito bom!

Não quero chover no molhado, nem repetir frases que eu já disse, mas vou novamente comentar: o Antiguas reserva merlot 2008 é um vinho que vale mais do que custa! Está redondo, aromático, delicado e sedoso. Tem complexidade maior do que seu preço e tem estrutura para evoluir mais uns 2 anos em garrafa. Varia muito de preço, sendo que no Spani Atacadista em Guaratinguetá, custa R$ 36,00. Por este preço, é barganha!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

De Angeles Malbec 2008

Comprei este vinho na Lo de Joaquin Alberdi, em Pallermo (Argentina), sem nunca ter ouvido falar. Foi indicação da vendedora da loja, pois solicitei vinhos menos conhecidos e com personalidade. Bingo! Grande indicação! Com uma pequena produção de apenas 12000 garrafas e sem passagem por madeira, esta vinho se destaca dos outros Malbecs argentinos por ter uma explosão de frutas na boca, boa maturidade, bom frescor e tudo sem se tornar cansativo. Coloração rubi púrpura, com reflexos violáceos, boas manchas nataça. Aromas predominantes de frutas vermelhas em compota, com muita especiaria e algo floral. Na boca, é volumoso, carnudo, tem boa acidez, taninos firmes, ótimo retrogosto e bom final. é bastante balanceado, mesmo o álcool que não incomoda. Um belo Malbec, que está entre os melhores que já bebi da Argentina. Não me lembro o quanto paguei, mas não foi caro. Nota: 91 pontos. Quando forem para a Argentina, fujam daqueles vinhos tradicionais e bem conhecidos. Não tenham  medo de experimentar produtos novos e desconhecidos, pois aí que estão reservadas as melhores surpresas.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Outback steakhouse: vale a pena?

Olá enogastrônomos da vida, este post é para vocês! Este fim-de-semana, fui conhecer o Outback de São José dos Campos, próximo à megalópole de Guaratinguetá. Já tentei ir duas vezes ao Outback em São Paulo (um pequeno município, quase desconhecido, próximo de Itaquaquecetuba), mas bati com a cara na porta: na última tentativa, tinham apenas 81 mesas na minha frente. Obviamente, ir ao Outback acabou virando obcessão, pois a dúvida era permanente: será que era tão bom assim, à ponto de estar sempre lotado? Será que vale a pena esperar para poder usufruir de sua estrutura? Pois bem, desta vez tudo foi mais fácil, apenas 28 mesas na nossa frente e após 50 minutos de espera, adentramos ao templo sagrado australiano. Fomos posicionados em uma mesa em frente ao banheiro, aff... Garçon, tire-nos daqui, pelo amor de Deus! Após 10 minutos, estávamos posicionados em outra mesa em outro local estratégico: próximo à entrada, aff... Deixa prá lá! Garçon, dê-me o cardápio, por favor! Eis que vem o menu dos Deuses, ligeiramente engordurado e confeccionado em um papel grosso, mas verdade seja dita: combinava muito bem com a mesa, também ligeiramente engordurada. E por falar em mesa, onde estão as toalhas? Ué, nem jogo americano? Sorry, my friend! Você está na Austrália, aqui é a terra do Crocodilo dundee, onde habitam os homens robustos e arborígenas, eh,eh,eh! Ok boy, mas a faca que vem é bem bacana, daquelas de cortar um boi pela metade, mas cadê o boi? Deixa prá lá! Amor, vamos beber algo? Garçon, traga-me um chopp! Oh, yes! Estupidamente gelado, naquele canecão, uau! Porra, não me avisaram que custa R$ 8,45 !!! Puta merda, cinco chopps e eu pago quase R$ 45,00 ??? É melhor um vinho, não é? E não é que o vinho é honesto? Sim, os caras não exploram no preço do vinho, a carta é enxuta, mas correta e o serviço é muito bem feito. Para harmonizar com uma ótima costela de porco ao molho barbecue com batatas, solicitei meia garrafa do Portillo malbec e para meu espanto, meia garrafa custa exatamente metade do preço de uma garrafa inteira. Bingo, ponto para o Outback, finalmente alguém que não quer levar vantagem nisto! Calma aí galera, os caras já tiram muita vantagem no chopp. Mas, para quê chopp? Meu, peça aquela famosa cebola gigantesca enpanada, servida com molho apimentado e você entenderá que sua língua clama por algo molhado e gelado! Os caras são gênios!!! E, por falar na cebola, que decepção... Mole, engordurada e excessivamente picante, nem de longe, vale os R$ 30,00 pagos por ela. Garçon, la cuenta por favor! What? Senhor, este é o valor da sua conta, sendo que o serviço de garçon não está incluso. O senhor gostaria de adicionar este serviço à conta? É claro, meu jovem. Pedindo com tanta educação assim, é impossível fazer tal recusa! Mas, espera aí! Aqui não é a terra do crocodilo dundee? Oh, my god! Chama a polícia!

Hartenberg Pinotage 2010

Este vinho veio através do clube wine e somente agora pude degustá-lo. É um 100% Pinotage (uva originária do cruzamento da Pinot noir com a Cinsault), da região de Stellenbosch, na África do Sul. Amadureceu 23 meses em carvalho francês (50% novos), segundo o site da wine. Se isso for verdade, conseguiram uma proeza, porquê a madeira é quase imperceptível e muito bem integrada ao conjunto. Outro aspecto é o preço: um vinho sul-africano (não é dos mais baratos) com tamanho tempo em barricas de carvalho custando próximo de R$ 50,00 é inédito no Brasil! Vamos ao vinho: coloraçào rubi-granada com reflexos violáceos, sinais de amadurecimento e boas manchas na taça. Aromas que lembram muito o terroir sul-africano: terroso e tabaco, fruta vermelha madura, especiarias doces como o cravo e a canela. Sente-se uma discreto floral oriundo da Pinot noir. Na boca, apresenta-se com corpo médio, bons taninos, ótima acidez, boa persistência. Tem boa tipicidade, tanto de cepa como de terroir, é bastante aromático, não se esconde, tem bom corpo, tem boa vocação gastronômica para carnes vermelhas e não custa caro. Ótima opção para se conhecer um bom pinotage sul-africano sem gastar muito. Nota: 90 pontos. Preço: R$ 51,00. avaliação custo-benefício ***.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Parkerização, vinhos de garagem, vinhos de autor, vinhos de terroir. O quê é isso? O quê estão fazendo com os vinhos?

De alguns anos para cá, vários termos foram surgindo para explicar alguns fenômenos recentes na fabricação dos vinhos. Mas, o quê significam estes termos? O quê isto tem a ver com a qualidade do produto final? Tudo começou com um cidadão chamado Robert Parker, o qual começou à escrever sobre suas impressões sobre os vinhos degustados por ele próprio. Criou um interessante sistema de pontuação e começou à publicar suas notas em uma revista, que viria à ser conhecida como Wine Advocate. O sistema de pontuação agradou em cheio o público norte-americano, acostumado com a praticidade e que ficava meio confuso na hora de escolher um vinho. A idéia foi boa, mas dois problemas ocorreram:
1) As avaliações eram feitas e as notas eram dadas segundo o gosto pessoal de Robert Parker, o que gerou uma espécie de "personificação" do vinho;
2) O fenômeno Parker foi tão grande, que vinhos com boa nota se esgotavam rapidamente e vinhos com baixa nota ficavam parados por meses nas prateleiras dos supermercados.
Ora, quem quer produzir um vinho para não ser vendido? Qual foi o resultado? Elaborar vinhos que correpondessem ao gosto de Parker, o qual pontuaria bem estes vinhos e estes seriam vendidos com maior facilidade, tamanha a influência que Parker tinha sobre a decisão de compra do consumidor final. Isto foi o que chamamos de Parkerização do vinho. Como esta Parkerização começou à dar resultados satisfatórios, o mundo inteiro começou à fazer igual, gerando uma mesmiçe conhecida como generalização do vinho, ou seja, os vinhos passaram à ser todos mais ou menos iguais. Mas, após alguns anos de Parkerização e generalização, alguns enólogos se desvincularam de suas vinícolas e passaram à produzir vinhos próprios, com personalidade própria, sem obrigação de fazerem vinhos comerciais e que atendessem ao gosto do público em geral. Esta liberdade de produção criou vinhos únicos, que traduzem de forma mais minuciosa e fiel o que o enólogo pensa. Surgiram então os chamados "vinhos de autor". Claro, a novidade agradou em cheio um público mais seleto, que busca algo mais do que simplesmente beber vinho. E, como este público tem mais "generosidade" na hora da compra, os "vinhos de autor" também ganharam preços mais salgados. No embalo do sucesso destes "vinhos de autor", alguns pequenos produtores (pequenos mesmo), passaram à divulgar mais seus vinhos de minúscula produção, alguns bastante raros (nem sempre com boa qualidade) e surgiram os "vinhos de garagem". Ora, por quê não também ganhar um "dim-dim"? Se o ciclano da esquina faz um vinho alí e cobra caro, por quê eu não posso ganhar um pouco mais no meu aqui? E, por último, parece que o mundo está meio que desgastado com a mesmiçe e também não está disposto à pagar caro por vinhos personalizados e de minúculas produções, que enfim veio outro conceito: vamos fazer algo diferente do quê estão fazendo todos? Como assim? Simples, vamos dar valor ao terroir, porquê não existem dois terroirs iguais, assim cada vinho é único, desde que respeitado o seu terroir. Surgiram os "vinhos de terroir". Genial, brilhante!!! Opa, mas não era exatamente isso o que faziam antes de Parker??? Como vocês podem ver, meus amigos, o universo vinícola é igual o mundo da moda: um eterno vai-e-volta de estilos. Surpresos? Eu não! Bye!

Um AOC Saumur Champigny por R$ 54,00: Domaine La Bonnelière Cuvée Symphonie 2009

Fosse eu falar isto anos atrás e seria tratado como mentiroso: um AOC Saumur Champigny por R$ 54,00 e bom, muito bom! Proveniente do Vale do Loire, com uvas 100% cabernet franc, este vinho expressa muito bem a delicadeza deste distinto terroir francês. Nada de hiper-concentração, nada de hiper-maturidade, nada de banho de madeira, nada de enjoativo! Este vinho trás apenas o quê a França faz de melhor e o resto do mundo (ou boa parte dele) está esquecendo: tipicidade de terroir. Aqui, quem manda é o terreno em que a vinha foi plantada, não interessando a cepa. O que vai sempre predominar é o terroir! E é impressionante como os vinhos do Vale do Loire expressam exatamente a mesma característica dócil e alegre dos seus castelos e jardins. Aja frescor, aja floral, aja alegria. A coloraçào é rubi brilhante com muita transparência, o que pode transmitir a idéia de ser um vinho "ralo", mas não se deixe enganar. Os aromas são característicos da cepa, com muita fruta vermelha fresca, herbáceo facilmente identificável, delicado floral e muita mineralidade. Bastante aromático, não se esconde e dá vontade de não para de cheirar. Na boca, mostra um corpo médio, taninos presentes e ainda por evoluir, acidez marcante e boa para comida, retrogosto sutil e ótimo final. Um protótipo de cabernet franc do Loire! Aliás, bem diferente dos potentes cabernet franc do Novo Mundo. Um vinho para pessoas sensíveis, que apreciam a delicadeza de um bom vinho. Harmonizou muito bem com um fettuccine com frutos do mar. Nota: 90 pontos. Avaliação custo-benefício ***.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Valmarino & Churchill espulmante extra-brut 2009

Uma das coisas que mais me alegra quando abro uma garrafa de vinho é me surpreender com a qualidade deste vinho, quando muito superior ao seu preço. E, quando isto ocorre com uma garrafa de vinho nacional, vivo um momento de êxtase. No caso deste espulmante, uma associação entre Valmarino & Churchill, não foi exatamente uma surpresa, visto que este vinho é muito bem comentado entre especialistas e enoblogs e a qualidade dos nossos ótimos espulmantes nacionais não é novidade. Mas, é sempre prazeroso e emocionante quando bebemos um belo produto brazuca. Elaborado à partir de 90% Chardonnay e 10% Pinot noir, com uvas dos vinhedos da Valmarino, em Pinto Bandeira, feito pelo método tradicional (segunda fermentação em garrafa) e safrado de 2009 (sim, isto existe no Brasil!), com 4 meses de amadurecimento em barricas de carvalho. Costumo dizer que um vinho tinto é 10% visual, 30% olfato e 60% gustação. No caso dos espulmantes, o visual responde por 30%, sobrando 30% para o nariz e 40% para a boca. Digo isto, porquê o vinho espulmante é sinônimo de festa e é o único que produz aquelas bolhinhas maravilhosas e encantadoras, portanto o aspecto visual é muito importante no vinho espulmante. E o aspecto visual deste vinho é quase perfeito: amarelo dourado com leves reflexos verdeais, muita limpideze um perlage finíssimo e duradouro. No nariz, traz boa complexidade, mostrando frutas cítricas, mel e pão tostado, lembrando algo de manteiga. Na boca, tem bom corpo e ótima cremosidade, o que o transforma num belo vinho gastronômico para comidas mais refinadas. Tem boa acidez e é seco em boca. Peca naquilo em que eu costumo lamentar nos espulmantes nacionais: tem um armargor final que incomoda um pouco. Com 12% de álcool, este passa imperceptível pela boca. Sem dúvida, um dos melhores espulmantes nacionais e perfeitamente apto para competir com muitos Champagne não safrados, Cavas e Franciacortas com pouca ou nenhuma procedência. Nota: 91 pontos. Preço: R$ 46,00. Avaliação custo-benefício ****.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Marquês de Casa Concha Cabernet sauvignon 2009. É tudo isso?

Um verdadeiro clássico! Mais do quê um vinho, um dos primeiros expoentes da nova vitivinicultura chilena. Um vinho que ajudou à abrir as portas do mundo para os vinhos chilenos. Mas, será que é tudo isso? Será que continua com este gás todo? Será que ainda pode ser chamado de ícone? Será que a fama é maior do que a qualidade? Na minha opinião, o Marquês de Casa Concha Cabernet sauvignon continua sendo um bom vinho, com bastante tipicidade, boa concentração e um razoável potencial de guarda, mas a verdade é que a distância entre este bom vinho e milhares de exemplares com preço três vezes menor, diminuiu muito. Não porquê caiu a qualidade do Marquês, mas os vinhos mais baratos melhoraram muito! É duro adimitir, eu que sou fã deste vinho, mas ele não vale mais os cerca de R$ 75,00 investidos. Já conseguimos encontrar muitos outros exemplares chilenos de igual qualidade por quase metade do preço. Ou vinhos 1 ou 2 pontos abaixo, por um terço do valor. Basta dar como exemplo outros vinhos mais baratos da própria Concha & Toro, como o Casillero Syrah e o Casillero Malbec. Nota: 89 pontos. Avaliação custo-benefício **.

Degustação "volta ao mundo".

Mais uma degustaçào conduzida por Marcos Dourado (Adega Cunha), em Guaratinguetá. O tema proposto foi "terroir do mundo", ou seja, trazer vinhos que caracterizam o terroir de origem. Os vinhos degustados foram:
Valmarino Brut Churchill – Brasil : O primeiro vinho degustado e a melhor impressão da noite. Corpulento, fresco, boa complexidade. Um espulmante que traduz perfeitamente o enorme potencial brasileiro para este tipo de vinho. Bola dentro.
Artero Tempranillo: Um leve e solto tempranillo espanhol, sem excessos de maturidade ou madeira. Vale os R$ 42,00.
Fatoria Basciano Rufina: Gostoso chianti, com bastante personalidade e tipicidade. O problema é que nesta faixa de preço (R$ 65,00), tem uma enormidade de concorrentes. Bola dentro.
Masi  Tupungato – Malbec-Corvina: O mico da noite, não porquê seja ruím, aliás, é um vinho gostoso, mas o objetivo da degustação era o de exemplificar as características da região e este vinho feito com uma parcela de corvina e através do método ripasso, não tem nada à ver com Argentina. Bola fora.
Terra Noble Carmenere Reserva Terroir: Vinho chileno mais típico do que este é impossível. Pimentão, herbáceo, chocolate, boa concentração. Só falha no preço: R$ 64,00. Por este valor, encontramos vinhos melhores.
Tupu de Santa Cruz Edicion Limitada: Sem dúvida, o melhor tinto da noite. Complexo, imponente e com longa vida pela frente. De novo, o problema foi o preço: R$ 145,00.
Até a próxima!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ruffino Chianti DOCG 2010

Figurinha carimbada dos enoblogs, mas faço questão de chover no molhado. Este vinho se propõe à ser gastronômico, barato e fácil de beber e é tudo isso. Fiz um papardelle ao molho branco com azeitonas verdes, calabresa picante e leve toque de manteiga trufada. Este prato demorou menos de 30 minutos para ficar pronto e o vinho agradou em cheio devido ao seu poder gastronômico e sua boa acidez. Corpo leve, aromas de especiarias, frutas vermelhas do bosque, boa acidez e taninos comportados fazem deste vinho um protótipo de simplicidade e bom gosto. Sem nove horas, é simples e gostosinho para acompanhar o seu jantar. Nota: 87 pontos. Preço R$ 38,00. Avaliação custo-benefício ***.

Rastros do Pampa Premium Cabernet sauvignon 2009

Enorme surpresa nacional, este vinho destoa completamente dos cabernet sauvignon do Vale dos Vinhedos. Proveniente da Fazenda Guatambú, em Don Pedrito, próximo à Bagé, pertinho do Uruguai, este vinho marca uma possível virada no pensamento de que a cabernet sauvignon não consegue bons resultados no Brasil. Com bastante tipicidade e principalmente muita elegância, esta vinho deixa para trás muitos exemplares famosos aqui do Brasil. A ótima maturidade da uva unida à um curtíssimo estágio em barricas novas francesas (apenas 2 meses), deixou o vinho bastante frutado e elegante. Tudo bem, não tem muita complexidade, mas o seu equilíbrio compensa a conta. Visual belíssimo com um bonito rubi algo translúcido e reflexos rubi. Aromas muito agradáveis de cassis, groselha, especiarias e algo tostado da madeira. Taninos no ponto, acidez corretíssima, bom corpo, um companheiro e tanto para uma bela picanha churrasqueada com pouco sal. No Vale dos Vinhedos, de equilíbrio igual, só conheço o Don Laurindo. Bom vinho, honesto e no ponto para ser bebido. Nota: 90 pontos. Preço: R$ 49,00. Avaliação custo-benefício ***.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Alvarez de Toledo Mencia Roble 2008

Vinho do mês de setembro do clube wine, elaborado com uvas Mencia, da região de Bierzo (Espanha), com 10 meses de passagem por carvalho francês e americano. Visual com coloração vermelho púrpura com reflexos violáceos, sem traços de evolução. Lágrimas grossas e densas manchas violáceas na taça. Aromas de ameixas pretas secas e baunilha, sem complicações. Na boca, mostra pouca acidez, taninos comportados, corpo médio e uma textura algo aveludada, terminando com um final longo e agradável. Vinho muito ao estilo Novo Mundo, com predominância de frutas hiper-maduras, bastante potência e concentração. Nada difere dos inúmeros exemplares espanhóis que desembarcaram no Brasil no último ano. Quem já bebeu o Embocadero, Real de Áragon, Sabor Real, etc., sabe o que vai encarar quando beber este vinho. Sim, é agradável, principalmente se tiver a companhia de um bom presunto cru, queijo parmesão, pão e azeite, hummm... Mas, não traz nada de novo, muito pelo contrário: é repetição da "fúria espanhola". Nota: 87 pontos. Preço: em torno de R$ 46,00. Avaliação custo-benefício **.