O mundo em uma taças

Dê-me uma taça com um pouco de vinho, que


viajarei pelo mundo através de seus goles.






terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Vilmar Bettú, uma autêntica "mosca branca"!

Não tinha outra forma de iniciar a minha série de posts sobre a viagem ao Vale dos Vinhedos e redondezas! O motivo é muito simples: não sei quando encontrarei novamente uma figura tão diferente e carismática quanto Vilmar Bettú! Tudo aconteceu repentinamente no último dia de viagem, quando eu já tinha esgotado as possibilidades de passeio e já havia me conformado com um sonolento sábado. Mero engano! Após encontrar de última hora, um local agradabilíssimo para almoçar (Família Vaccaro, zona rural), observei a presença de uma pequena vinícola no caminho da roça, chamava-se Vinhos Bettú. Liguei para o telefone indicado no folheto e uma de suas filhas atendeu e foi chamar o pai. "Seu Vilmar, gostaria de conhecer sua vinícola e seu processo de produção." Logo ele respondeu: "Sim, claro, mas não venha agora! Vamos deixar para às 15:00h, pois tenho que prepara tudo!" Compromisso firmado, fui almoçar e após muitos vinhos no almoço, peguei o caminho daquilo que foi a experiência enológica mais pitoresca da minha vida. Estacionei o carro em frente sua propriedade e a cachorrada fez o trabalho de anunciar nossa chegada. Logo, apareceu a figura de Vilmar: gordinho, baixinho e com um belo rabo de cavalo. "Por favor, me sigam." E lá foi o "Mestre dos magos" em direção à um porão, no qual funcionava sua pequena vinícola e nos acomodou (eu, minha esposa e minhas filhas) em uma espécie de sala de aula e degustações, com inúmeras taças e garrafas. Nos apresentou seu modo de produção e sua generosa carta de vinhos. Pegou um espulmante de produção própria, ainda sem rolha e foi abrindo. "Seu Vilmar, o senhor não vai fazer o congelamento da ponta da garrafa, para retirar as borras?". Respondeu: "Vamos beber agora, então para quê ter dois trabalhos?" Óbvio!!!!! Meu Deus, que espulmante! Aquele néctar com 3 anos de maturação, apresentava um belo amarelo dourado, com um perlage fino e abundante, aromas intensos de castanha e avelãs, boca volumosa e ao mesmo tempo leve; um verdadeiro champagne! Este produto, Vilmar não vende em hipótese alguma, pois só é utlizado para brindar aqueles que o visitam. Vilmar Bettú conversa de tudo e quer saber sobre seus visitantes. Coversamos sobre política, economia, jogos de cartas, família, filmes e claro, vinhos! Colocou um vinho branco extremamente aromático e refrescante em minha taça: "É Malvasia de Cândia!" Carnudo e fresco, similar aos grandes Gewustraminer da Alsácia e Alemanha. "Experimente este aqui!" Serviu um tinto violáceo escuro, quase intransponível, com intensos aromas de violeta e frutas em compota. "Que vinho é este, Vilmar?" Respondeu: "É um malbec." Tá de sacanagem! O vinho lembra muito um bom Achaval Ferrer! Papo vai, papo vem e, ao falarmos de Pinot noir, ele pergunta: "Você gosta de Pinot?" Exclamei que sim, já esperando algo bom, mas o quê veio foi surpreendente: ele se levantou e pediu que o acompanhasse até a sala ao lado, onde pegou uma pipeta e abriu um barril. Colocou o vinho em nossas taças e disse: "Este é um pinot de um vizinho meu. Foi elaborado seguindo as técnicas biodinâmicas e vai ser engarrafado esta semana. Experimente, sua opinião é muito importante!" Vilmar não vê vantagens no cultivo biodinâmico, mas respeita quem faz. "O quê você achou?" Respondi: "Um bom pinot, Vilmar! Ainda com madeira bem aparente, escondendo um pouco o vinho. Falta um pouco de tipicidade de Pinot borgonhês, mas é um bom vinho!" Me perguntou: "Quanto você acha que ele vale?" Respondi: "Vai depender da quantidade, apresentação e outras coisas mais!", me esquivando. Completei: "Este vinho será um sucesso de vendas, dependendo do valor cobrado!" Após este autêntico "jogo de xadrês", Vilmar me serviu um Nebiollo 2006: evoluído, macio e cativante. Ainda houve espaço para um corte bordalês muito bom. Após mais de 3 horas (sim, eu disse 3 horas) de conversa e vinhos degustados, fiz uma compra que inclui o Malbec, o Nebiollo e o corte bordalês. Insisti em uma garrafa de espulmante, mas Vilmar foi resistente em não vendê-la. "Seu Vilmar, o que você faz da vida?" Respondeu: "Faço vinhos e jogo cartas. Aliás, deveria estar lá, jogando cartas, agora." Perguntei: "Estou te atrapalhando?" Respondeu: "Não, este é o meu serviço!" Deixei sua casa, após mais de 3 horas de pura diversão e aprendizado, feliz da vida com minhas 3 garrafas embaixo do braço. Vilmar Bettú não fez enologia e tudo o quê sabe, aprendeu com seu pai e com os parrerais. Auto-didata, fez estudos sobre terroirs e é respeitado por celebridades do mundo do vinho. Já foi tema de reportagens de televisão e revistas especializadas, mas não se julga um gênio. Tem muita humildade para perguntar e ouvir opiniões e tem opinião formada sobre quase tudo, não se deixando levar por modismos. Dono de uma inteligência ímpar, sabe cativar o cliente e vender sua marca, sem ser um picareta. Suas minúsculas produções são vendidas vagarosamente e vão subindo de preço, conforme vão acabando. Quanto ao preço, alguns acham seu vinho muito caro, mas vejamos: o Malbec custa R$ 100,00, não mais que um belo malbec argentino; o corte bordalês de 2003 custa R$ 95,00, bem menos que um Bordeaux da mesma qualidade; o Nebiollo custa R$ 160,00, quanto vale um bom Barolo mesmo? Sim, seus vinhos são ótimos e valem o quanto custam. Ao adquirir suas garrafas, sei que ao abri-lás vou estar recordando esta experiência ímpar e isto não tem preço! Obrigado Vilmar Bettú, por momentos tão agradáveis e singelos. Até a próxima!

7 comentários:

  1. Excelente post. Tenho muita vontade de conhecê-lo. Obrigado pelas dicas!

    ResponderExcluir
  2. Emílio, belo post. Acabei de enviar email para o Bettú e vou tentar fazer uma visita agora em julho. Você recomenda algum outro restaurante nessa Estrada do Sabor (http://www.estradadosabor.com.br) ou o Vaccaro é melhor opção mesmo?
    Grande abraço.

    Paulo

    ResponderExcluir
  3. Vaccaro não é um restaurante e sim uma família que recebe os visitantes em sua própria casa, situada na zona rural de Garibaldi. É um programasso, pois eles são atenciosos e a qualidade da refeição é de tirar o chapéu. É aquele tipo de comida da vovó e o ambiente é bem familiar mesmo. Mas, é necessário agendar antes de ir. Há outras famílias na região que fazem o mesmo programa. Eles só recebem para o almoço e vai com o estômago vazio e preparado para comer muito e beber mais ainda. Há ainda outras opções de restaurante em Garibaldi e Bento Gonçalves, sendo que o mais conhecido e talvez um dos mais agradáveis seja o Canta Maria, ao lado do pórtico pipa, na entrada de Bento Gonçalves. Abraços!

    ResponderExcluir
  4. Neste site encontrei a definição mais próxima que senti ao provar os vinhos do Sr Berttú: uma experiência impar. Muitas vezes nos deparamos com algo extraordinário e custamos a acreditar na sorte. Pensei muito sobre estes vinhos mágicos e tenho certeza que jamais encontrarei algo parecido, seja em que parte do mundo for. Obrigado Sr Berttú. Até a próxima, que espero ser breve, se o Sr puder nos receber de novo. Enquanto isto vou lembrando deste dia inesquecível com as poucas garrafas que trouxe e que me obrigarão a voltar. Felizmente. Jose Antonio.

    ResponderExcluir
  5. Neste momento estou me deliciando com uma garrafa de um corte bordales de 2001. Obrigado Vilmar (Bettu) por tanto conhecimento e destreza. Magnífico. Vou buscar mais pois a Malvasia de Candia acabou.

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir